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Clarice Lispector tem entrevista inédita publicada em revista americana

Conversa com a escritora de origem ucraniana e brasileira ocorreu em outubro de 1976, pouco mais de um ano antes da morte dela

Ranyelle Andrade/Metrópoles

Acervo/IMS


Uma entrevista inédita de Clarice Lispector foi divulgada pela revista americana New Yorker, nesta segunda-feira (13/2). A conversa foi gravada em áudio pelos escritores Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna e João Salgueiro em outubro de 1976, pouco mais de um ano antes da morte da escritora, em dezembro de 1977. A entrevista é resultado de uma rara e honesta conversa com a autora de A Hora da Estrela. Nela, Clarice fala sobre como os pais escaparam do país Ucrânia durante um conflito com militares russos para salvá-la e de sua relação com o país que a acolheu. “Cheguei ao Brasil com dois meses de idade. Me chamar de estrangeira é bobagem.”


Clarice ainda esclarece a origem de seu suposto sotaque gringo . “É língua presa”, diz. “Podia cortar, mas, dizem, é um lugar muito úmido, dificilmente cicatriza.”

A escritora também lembra a infância pobre. “Não faz muito tempo, eu perguntei a Elisa, minha irmã mais velha, se a gente algum dia passou fome. Ela disse ‘quase’. Porque tinha, no Recife, numa praça, um homem que vendia uma laranjada na qual a laranja tinha passado longe, tudo aguado, e um pedaço de pão. Isso era nosso almoço.” Clarice ainda conta como aprendeu a ler, devorando livros, e revelou que as primeiras histórias que escreveu foram enviados para o jornal Diário de Pernambuco, para a seção infantil publicada às quintas-feiras. “Eu me cansei de enviar minhas histórias, mas elas nunca as publicaram, e eu sabia por quê. Porque os outros começavam assim: ‘Era uma vez, etc, etc’. E os meus eram sensações.”

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